Sinto hoje uma necessidade urgente de confessar meu amor, sei que disse, sei que jurei através das inúmeras preciosas cartinhas apaixonadas de uma adolescente.
Furtivos olhares e mensagens do “para sempre te amarei”.
Verdades únicas, naquele momento, naquela idade. De coração para coração.
Ao jovem que chorava torrencialmente para eu ficar um pouco mais na festinha dele de 15 anos (hi-fi, lembram?), mas eu tinha até 10 h para ficar na rua.
Talvez fosse um dos primeiros a desabrochar a poesia dentro de mim. Ah, não, minto!
Ao jovem loiro das das grossas coxas, que iria pedir a meu pai “namorar em casa” (te espero até hoje,rs). Que sonhava em ser jogador de futebol, logo eu soube que foi um bom motorista de onibus. Craque é craque, naquilo que escolher fazer melhor.
Aos jogadores do campinho de futebol perto de casa que entre uma jogada e outra parava para me ver passar… (ai que tímida) e dizia para minha mãe que ela era a sogra que eles sonhavam…
Ah, eu falei e escrevi, poderia ter registrado em cartório todas essas falas, porque foram escolhidas de dentro de um coração cheio, transportado de palavras dóceis e ingênuas. Que não conhecia o sexo, nem deixava as mãos bobas correr sobre meu grande busto.
Era sobre o amor, sobre pássaros que paravam de cantar para nos ver beijando.
Era sobre caneta numa folha branca dançando na tal quadra sobre o luar, que nunca aconteceu. Fazer um amor desenhado na imaginação, que delícia!
Corri atrás desses caras, bati em portas, questionei na balança da troca, o que era meu, o que era seu…
Confessei meu amor e não me arrependo. Não e não. Posso dar um stop e me reconhecer jovem, colecionando figurinhas, calendários, cartões de natal, mas era eu.
Posso me ver nos correios despachando mais uma vez, o meu coração.
Posso ver meu rosto feliz ao receber o carteiro do bairro deixando para mim, uma carta que só poderia falar de amor, também.
Ah, você me amou. Eu vi nos seus olhos. Uns até mesmo antes de partir, me confessaram, uns até eu desconhecia qualquer sentimento. Mas foi amor, e eu só agradeço e desculpe se não percebi.
Vi o amor quando a porta abria para me receber, com flashs de música do Roberto, que tentaram me embriagar numa viagem sem volta…
Mas sendo eu, voltei.
Porque antes de confessar o meu amor, eu devia a tanta gente. Devia respeito, sinceridade, honradez. Devia a um nome que me deram ou por acaso, ou predileção, mas que seria eu a carregar por todo o meu destino.
Amei vocês, acreditem. Aos furos nos encontros, na cartinha do adeus, na não aprovação da mãe (a sua),no esquecimento do meu aniversário, na caminhada longa proposital porque fui a praia com minha prima e você com ciúme, me castigou…
Ah, os castigos! Fui punida por amar, por ser sagitário e correr atrás da “liberdade”. Fui punida por olhar as estrelas e a lua. Por acreditar que o amor existe, por continuar ingênua e gargalhar infantilmente agora, que choro por ser agora, uma pessoa nada parecida comigo.
Maria Lenita – Rj 07nov2022 – 18:14h