Vim Assim

Estou pensando aqui nas mãos que me trouxeram ao mundo, teria sido uma parteira ou um médico obstetra? Provavelmente uma parteira com suas mãos hábeis, resgatou-me do interior de minha mãe.

Um momento único, feliz! Nem tanto, não me engano, um descuido de uma mulher desprotegida de tudo e que num estranho apostou esse desespero, resgatou-a.

Das mãos dessa parteira, talvez eu tenha recebido o primeiro olhar de felicidade, do tipo “mais um serviço executado” que com orgulho sabia fazer o seu trabalho, separando emoções, timidez, fragilidade. Talvez eu tenha herdado esses atributos de uma estranha, inconscientemente.

Mas, continuando a pensar (que bom), penso nas mãos que me tirarão a vida. Sim, um dia alguém deverá fechar meus olhos, de alguma maneira terei um último rosto para apreciar.

Talvez de um assassino, de um profissional, de um parente, ou talvez eu mesma frente a um espelho…Não, isso não.

Porque das mãos mais importantes nessa história, penso aqui, naqueles que se abraçaram, se envolveram, se amaram… sem romantismo.. tá bom….fizeram sexo. Onde mãos couberam nas palmas de um, de outro, de sussurros prometendo o que não tinham…

Mas promessas foram cumpridas, ambos envelheceram juntos e eu estava lá, fruto de um descuido, mas apaixonada por dois seres que não coloquei no mundo, nem fui responsável por fechar-lhes os olhos. Mas sou a que questiona de como aprendemos a nos amar tanto, nos declarar várias vezes. São minhas as mãos que se erguem a Deus em gratidão pelos pais que me deu, mesmo que por descuido.

Maria Lenita 04jun2022

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