O peso de uma gôta

Queria escorrer pelo seu rosto, como caminha as águas de um rio.

Conheço as pedras, as curvas, o céu, a noite caindo…

Mas não consigo mais. Empedrei seus conhecidos sentimentos, margeei seu olhar na foto do passado, revi tua saudade nas lembranças que teimosamente bate em seu coração.

Não tenho força para desembrulhar as constantes lágrimas, mantenho-as como gelo, encrostadas na parede do seu triste olhar.

Já chorei tudo o que podia, nada deixei passar, a insegurança da pequena menina que chorava atrás do portão preto, a imatura paixão dos primeiros amores, o desprezo de uma mulher cercada de colegas de trabalho, a madura mulher que sente cada vez mais amiga, a solidão.

Chorar não mais te cabe. Reconhecer-te isolada, não preferida, fez-me ser quem tu és. Não, não foi o mundo que te fez assim. Você quis ser assim, alheia as opiniões, críticas/elogios, infantil/adulta, não importa.

Seja quem és, não te cabe mais chorar. A vida te deu o que pediu, ainda te deu vários brindes. Enlace-os num abraço e seja grata.

Tantas, mas tantas pessoas te ajudaram nessa evolução, e você sabe disso, sempre soube.

Como um mapa, você mesma desenhou as planícies e os vulcões, deu a esses fenômenos suas respectivas importâncias.

Se choras, porque és humana. Mas superior a cascatas de lágrimas, é o próximo piscar de olhos, que nunca mais te deixará chorar o choro infantil.

Maria Lenita 22out2021

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