Quando eu era pequena, eu desconhecia o natal, não lembro seguramente em escrever carta a um velho que presentearia a criança que foi boa durante aquele ano. Também não me perguntaram o que eu gostaria de ganhar de presente. Talvez eu não tivesse sido boa o suficiente… sei lá…não lembro.
Tinha umas festas no serviço da minha mãe e presentes eram dados, mas não lembro de mim radiante, esperançosa no inocente olhar.
Na nossa mesa, lembro das caixinhas das uvas passas, e do que eu mais gostava era do vidro de pêssego em calda…juro que não lembro de mais nada.
As bonecas que tive, foi por volta dos meus 9 anos, quando fui morar com meus pais na rua do Matoso, num cortiço ou cabeça-de-porco, como eram nomeados as residências humildes.
Tenho orgulho de toda a minha história e seus personagens. Ser criança é algo incrível, as memórias nos traem, os olhos lagrimejam e a saudade é eterna.
Penso num natal que criei na minha cabeça, talvez fosse na época da transição para adolescência, seria de mesa farta com coquinhos, amêndoas, uvas passas, pêssego em calda, música alta, eu elegante numa roupa nova…
Sem sapatinhos na janela, hoje as vésperas dos meus 61 anos, vivo um natal diário, sem expectativas, crente na verdade “um dia de cada vez”, sem muitos remorsos.
Ciente que sou amparada por Deus e que Ele com certeza escreveu uma linda carta em dezembro de 1960: a minha história.
Maria Lenita 20nov2021