O que o vento me traz hoje? Lágrimas.
De quem partiu e me deixou. De quem partiu e não voltou o mesmo, de quem está partindo e dia a dia se despede de mim.
Sei que não devo viver esses pensamentos.
Mas me é tão sensível o adeus que não me foi dado, como o adeus da memória de quem me olha e me desconhece.
Será que o vento me diz isso? Me dá lágrimas idênticas às choradas na infância? As que caiam escondidas por detrás do portão preto?
Hoje vejo minha mãe chorar pela janela e isso dói. Me despeço com um aceno e com uma lágrima que deixo cair no carro que me leva a minha vida.
Não fui vida para os meus pais, quando criança, mas também não violo, nem despercebida é a dor deles que presencio (e presenciava) diariamente. Posso abrir mão da minha vida para abraçar a dela, porém, meu portão ainda está fechado, e com eles aprendi a abrir, escrever, desenhar, sorrir sozinha o livro branco que eles me deram.
E o vento? Ele me sopra baixinho a sensatez, a harmonia e dita mais vagarosamente ao meu coração, aonde encontrar a chave que um dia irei abrir o cadeado pesado, enferrujado que me inibe de ser feliz.
Maria Lenita – 21 ago 17 – 19:50
Lindamente trágico e triste, porém com uma carga emocional enorme. Lindo demais, lindo demais